O ator e embaixador de boa-vontade da agência de refugiados da ONU, Alfonso Herrera, emergiu como uma das figuras centrais numa das maiores conferências globais sobre clima, a COP30, ao assumir — de fato — a missão de dar rosto e voz às pessoas deslocadas pela crise ambiental. Em meio a dezenas de painéis técnicos, Herrera não se limitou a participar — ele conduziu, provocou e cobrou um olhar mais humano para o entrelaçamento entre migração forçada e mudanças climáticas.
A escolha de Herrera — historicamente conhecido por seu trabalho artístico de alcance massivo — sinaliza uma virada nas estratégias de mobilização: não mais apenas discursos engajados, mas presença institucional em fóruns onde política, ciência e literatura se entrelaçam. Ele moderou um evento paralelo no qual refugiados, migrantes internos e comunidades vulneráveis discursaram ao lado de altos comissariados, rompendo o típico isolamento dessas vozes na plateia.
Herrera aproveitou a visibilidade para afirmar que a crise climática não se limita a derretimento de geleiras ou aumento de emissões — ela já produz deslocamentos em escala, agrava conflitos e expulsa pessoas de suas casas. Ele enfatizou: “Quando falamos de segurança climática, também falamos de segurança humana”. E foi além: criticou abordagens que tratam refugiados apenas como “casos humanitários” e não como agentes de adaptação e resiliência. Para ele, o processo de deslocamento e reinvenção cotidiana dessas populações é um ativo — seja na reconstrução, no acolhimento ou nas novas economias que emergem em territórios de reassentamento.
Esse posicionamento de Herrera surgiu em contexto de crise crescente. À medida que furacões, secas e enchentes se tornam mais frequentes, a intersecção entre clima e mobilidade humana se torna cada vez mais evidente. E aquele que já interpretou personagens de grande apelo cultural hoje interpela os negociadores da conferência: “Vocês deliberam sobre bilhões em financiamento — e esquecem de olhar no olho de quem perdeu tudo”. Sua atuação simboliza que a retórica de “justiça climática” só cumpre propósito se for acompanhada de inclusão, participação e financiamento real para populações deslocadas.
Dentro do evento, Herrera falou candidamente sobre privilégios: reconheceu que sua voz de celebridade lhe confere plataformas ausentes para milhares de pessoas com experiência direta de deslocamento. Mas não quis que isso se resumisse à “foto-oportunidade”. Ele exigiu compromissos concretos: mecanismo de financiamento para quem se desloca por causa de mudanças climáticas, acesso à proteção legal e integração nos processos de discussão de políticas — não como espectadores, mas como protagonistas.
Críticos poderiam apontar que uma participação simbólica não resolve o problema estrutural. Herrera conhece esse argumento e o abordou: afirmou que a visibilidade é apenas o início — o verdadeiro teste será se políticas e orçamentos mudarão. Ele lembrou que, no passado, conferências falharam em traduzir promessas em resultados. “Não basta assinar papel se as pessoas continuarem perdendo suas casas e suas vidas”, frisou.
Para o grande público, a atuação de Alfonso Herrera destaca um fenômeno relevante: a convergência entre cultura popular, diplomacia e humanitarismo. Quando um ator latino-americano assume papel de liderança em debates de clima e migração, ele quebra antigos muros entre entretenimento e ativismo sério. E essa mistura, quando bem articulada, pode gerar impacto — mobilizando audiências, pressionando governos e, sobretudo, dando visibilidade a quem quase nunca é ouvido.
Em última instância, Herrera coloca uma pergunta simples, mas poderosa no centro da COP30: se o mundo está disposto a resolver a crise climática, será que está também disposto a proteger e acolher quem já está sendo forçado a sair de casa ? A resposta, segundo ele, está nas ações que virão após os flashes, não apenas nos discursos feitos sob os holofotes.